
Quando saí da minha cidade natal para um contrato de trabalho no exterior, era para ser apenas seis meses de trabalho árduo e sacrifício. Minha esposa, Lydia, estava no aeroporto, acenando com lágrimas nos olhos, prometendo que me esperaria, não importava o quê. Nós ainda não tínhamos filhos, mas tínhamos tentado, rezando todas as noches antes de eu viajar, esperando que fôssemos abençoados em breve.
Esses seis meses foram brutais. Eu tinha dois empregos: construção pesada durante o dia, dirigindo para um aplicativo de entrega à noite. Eu enviava dinheiro para casa toda sexta-feira, ligava para ela sempre que podia, e toda vez que ela atendia, parecia alegre. “Estou bem, querido”, dizia ela. “Não se preocupe comigo.”
Até o quarto mês, quando suas ligações ficaram mais curtas. Às vezes, ela nem atendia. Pensei que talvez estivesse apenas ocupada ou cansada, mas no fundo, algo não parecia certo. Mesmo assim, eu confiava nela. Afinal, Lydia era a mulher mais gentil que eu conhecia.
Quando meu visto de trabalho expirou, voltei para casa sem avisar. Eu queria surpreendê-la. O voo noturno pousou e, ao amanhecer, eu estava na nossa porta da frente, mala na mão e o coração acelerado de expectativa. Mas no momento em que abri a porta, congelei.
Eu ouvi um choro. Não um, mas dois bebês chorando.
Meu coração deu um salto. Meu primeiro pensamento foi: talvez um vizinho tenha vindo visitar. Mas então eu a vi. Minha esposa, Lydia, segurando dois bebês nos braços, balançando-os suavemente. Sua barriga estava lisa, seu cabelo estava bagunçado, seu rosto pálido.
Ela ergueu os olhos e toda a cor sumiu de seu rosto. “D-David…” ela gaguejou.
Deixei minha mala cair no chão. “De quem são esses filhos?”
Seus lábios tremeram. “Não é o que você pensa…”
Eu dei um passo mais perto, olhando para os bebês. Eles pareciam minúsculos, recém-nascidos. “Lydia”, minha voz estava baixa e trêmula. “Eu estive fora por apenas seis meses. Seis meses! Como… como você teve dois filhos nesse tempo?”
Ela caiu no choro, tentando falar, mas sua voz falhou. “Por favor… apenas sente-se, eu posso explicar tudo.”
Mas eu não conseguia. Meu peito parecia estar sendo esmagado. Tudo em mim gritava que algo sombrio estava escondido por trás de suas lágrimas.
“Diga-me a verdade!” eu rugi, dando um passo à frente.
Finalmente, ela caiu de joelhos, soluçando incontrolavelmente. “Sinto muito”, ela chorou. “Eu não queria que acontecesse!”
Fechei os punhos, tremendo. “Acontecesse? Acontecesse com QUEM?”
E então ela disse. As palavras que quebraram tudo.
“São os filhos do seu irmão.”
Meus joelhos cederam. Eu a encarei, incrédulo. “O que… O que você acabou de dizer?”
Ela cobriu o rosto, chorando ainda mais alto. “Foi um erro… ele estava lá por mim quando você se foi, e eu estava tão sozinha, e…”
Eu não a deixei terminar. Meus ouvidos zuniam de fúria. Meu coração estava se partindo e queimando ao mesmo tempo. Naquela noite, dirigi direto para a casa do meu irmão, Mark. Quando ele abriu a porta, a culpa brilhou em seu rosto como um relâmpago.
“Simplesmente aconteceu, cara”, disse ele antes que eu pudesse falar. “Eu juro que não queria te machucar!”
A próxima coisa que soube foi que meu punho acertou seu rosto. Depois outro. Ele não revidou. Ele apenas ficou lá, chorando, com sangue escorrendo do nariz. “Sinto muito”, ele repetia sem parar, “sinto muito mesmo.”
Mas há feridas que desculpas nunca podem curar.
Quando voltei para casa, Lydia tinha ido embora. Suas roupas, os bebês, tudo—desapareceu. Não havia um único vestígio dela. Pensei que aquele era o fim. Pensei que talvez ela tivesse fugido para se esconder da vergonha.
Mas naquela noite, eu soube a verdade.
Exatamente às 2:17 da manhã, eu ouvi: risadas fracas ecoando pelo corredor. Risadas de crianças.
Eu congelei. Lentamente, virei-me para a porta, meu coração batendo como um tambor. O som ficou mais alto, mais próximo. Peguei uma lanterna e saí, sussurrando o nome dela, mas o corredor estava vazio.
Na manhã seguinte, minha vizinha, a Sra. Grace, bateu na minha porta, parecendo aterrorizada. “David”, disse ela, com a voz trêmula, “eu vi a Lydia ontem à noite. Ela estava parada na chuva com os bebês. Descalça. Apenas olhando para a sua casa.”
Meu sangue gelou. “Isso não é possível”, eu disse. “Ela se foi.”
Mas a Sra. Grace assentiu. “Eu sei o que eu vi.”
Corri para fora, para a lama e a chuva. Mas não havia pegadas. Nenhum sinal de ninguém. Apenas silêncio e o leve cheiro de talco de bebê no vento.
Agora, toda noite, eu ouvia a mesma risada ecoando fracamente através das paredes. Às vezes eu ouvia a voz de Lydia sussurrando meu nome. Às vezes eu acordava e encontrava pequenas pegadas molhadas perto da cama—dois pares.
Eu não sabia se era a culpa que estava me assombrando… ou algo muito mais sombrio.
Três semanas se passaram desde aquela noite, a noite em que percebi que minha esposa e meu irmão haviam me enterrado vivo na traição. Tentei seguir em frente, mas toda vez que me olhava no espelho, via um homem que não reconhecia mais. Minha casa não parecia mais um lar.
Uma noite fria, decidi ir embora de casa para sempre. Empacotei algumas roupas, tranquei a porta e estava prestes a ligar o carro quando vi algo se mover no canto do meu quintal—duas pequenas figuras paradas debaixo do velho carvalho. Pisquei com força, pensando que estava imaginando coisas. Mas quando um relâmpago brilhou, eu os vi claramente: os bebês. Os filhos da minha esposa.
Eles estavam parados ali, encharcados pela chuva, de mãos dadas, olhando para mim com olhos que brilhavam fracamente na escuridão. Minha garganta secou. Meu primeiro instinto foi correr, mas algo dentro de mim sussurrou: “Não se mova.”
“Lydia?” eu gritei, minha voz tremendo.
Não houve resposta. As crianças inclinaram a cabeça lentamente, em uníssono.
Então eu ouvi: a voz dela, suave e quebrada, vindo de trás de mim.
“David…”
Eu congelei. Meu coração parou. Virei-me lentamente, e lá estava ela. Minha esposa, Lydia, com seu vestido branco ensopado, cabelo escorrendo, olhos fundos como dois poços escuros. Seus lábios se curvaram em um sorriso fraco. “Você nunca disse adeus.”
Eu cambaleei para trás, agarrando meu peito. “Você não é real… Você não é real!” eu gritei, mas ela continuou se aproximando até que pude sentir o ar gelado ao redor de seu corpo.
“Você se lembra do que disse antes de ir?” ela sussurrou. “Você me disse que sempre voltaria para mim… não importava o quê.”
Lágrimas ardiam em meus olhos. “Você me traiu, Lydia! Você destruiu tudo!”
Ela sorriu tristemente. “Não, David… Nós destruímos. Você deixou a raiva substituir o amor. Você deixou o ódio abrir a porta.”
Antes que eu pudesse entender suas palavras, as crianças começaram a cantarolar, uma canção de ninar lenta e sinistra que ecoou pelo quintal. O ar ficou pesado. Meus joelhos fraquejaram. Então eu vi: seus rostos começaram a mudar. A pele deles ficou pálida, os olhos negros como breu, seus sorrisos afiados e antinaturais.
Gritei, correndo de volta para casa e batendo a porta. Subi as escadas correndo, me tranquei no quarto e pressionei meu ouvido contra a madeira. Por um momento, silêncio.
Então, toc, toc, toc. Três batidas suaves.
“Papai”, uma vozinha sussurrou. “Podemos entrar?”
Tapei os ouvidos e gritei até minha garganta ficar rouca. “Vão embora! Vocês não são meus! Vão embora!”
As batidas pararam. Sentei-me no escuro, tremendo, tentando rezar, mas minha voz não saía. Horas se passaram, talvez dias. Eu não abri a porta. Nem uma vez. Quando a manhã finalmente chegou, criei coragem e saí, e o que vi me congelou por completo.
Pequenas pegadas molhadas cobriam todo o corredor… levando diretamente à porta do meu quarto trancado.
Corri para o quintal, ofegante, mas algo me chamou a atenção. Debaixo do carvalho onde os vi pela primeira vez, a terra estava recém-revirada. Ajoelhei-me, minhas mãos tremendo, e comecei a cavar, até ver algo que fez meu coração parar.
Três covas rasas. Uma pequena, uma menor ainda, e uma do tamanho de um adulto.
Minha visão ficou turva. Caí para trás, percebendo o que significava.
Eles já estavam mortos.
Lydia e os gêmeos haviam morrido em um acidente duas semanas depois que ela foi embora. Fiquei sabendo mais tarde pela polícia: um acidente de carro na rodovia, corpos queimados a ponto de não serem reconhecidos. Meu irmão, Mark, havia sobrevivido, mas desapareceu imediatamente após o enterro.
Naquela noite, eu finalmente entendi: eu não estava sendo assombrado pela culpa. Eu estava sendo visitado. Eles não tinham vindo por vingança.
Eles tinham vindo por mim.
Porque naquela noite, quando fui para a cama, sonhei com Lydia novamente. Ela estava parada em um campo claro, sorrindo, segurando os bebês. “Está na hora”, disse ela suavemente. “Venha para casa.”
Quando acordei, não conseguia me mover. O quarto estava gelado. Minha visão escureceu. A última coisa que ouvi foi o som de pezinhos correndo ao redor da minha cama, e a voz de Lydia sussurrando: “Nós esperamos, David… Agora nunca mais vamos nos separar.”
Pela manhã, os vizinhos encontraram minha porta ainda trancada por dentro. Eu estava deitado pacificamente na cama, com os olhos fechados e um leve sorriso no rosto.
E embora a casa esteja vazia desde então, toda sexta-feira à noite, os passantes juram que ainda ouvem crianças rindo por trás daquelas paredes, e uma mulher cantarolando suavemente uma canção de ninar que nunca termina.